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A humanização da música pop internacional

Temos visto artistas do pop internacional migrando para gêneros diferentes e trabalhando formas de humanização na música. Por quê?
Leia nesse artigo

Plástico no oceano da música: há quem diga que a música pop internacional é plástica e repetitiva. Ainda que não possamos mais fazer um recorte bem definido do que é ou não é música pop por conta de todas as fronteiras que caíram entre os gêneros musicais nos últimos anos, muitas dessas críticas não levam em consideração a intencionalidade na criação – a finalidade – seja ela pelo artista ou pelas estruturas que alçam seu estrelato.

Vozes robóticas, instrumentos distorcidos juntos de sons mais orgânicos, refrãos com estruturas que se repetem e constroem um território aparentemente conhecido – o clichê da música pop-dance. Um bom pedaço do bolo desse gênero nadou por anos nisso, mas temos visto artistas que buscam trabalhar alguma forma de humanização em meio aos sintetizadores (ou longe deles), em especial após a colisão do universo do pop com o indie.

Para deixar isso um pouco mais claro, quando eu falo de uma humanização na música ou de deixá-la mais orgânica/autêntica, me refiro a instrumentos, letras, tempo das entradas e outros elementos que vou comentar neste artigo. Vem comigo!

Música DIY – Do It Yourself (Faça Você Mesmo)

Começo dizendo que a perfeição não existe. Mesmo o artista mais bem treinado do mundo comete erros: uma nota mal tocada, uma voz que não sustenta o grave ou que solta um agudo mal projetado, uma batida levemente fora do compasso, uma entrada adiantada ou atrasada na música.

Errar é humano, já diz o ditado. E quando esses “erros” são controlados, temos a percepção de que quem canta ou toca não é uma pessoa perfeita e inalcançável – modelo de fama cujos estúdios de Hollywood criaram e que se perpetuou inclusive na música. Ela é simplesmente humana. Humana como eu e você. E vive pelo sentimento que quer transmitir, pela verdade, pela sinceridade sobre as próprias habilidades e pela a sabedoria de aceitar os seus erros sem querer ser a melhor, mas com o desejo de se desafiar a melhorar.

Quando um artista pop se permite esse tipo de caminho, a identificação é imediata. A filosofia do DIY na música – comum no mundo indie – traz a impressão de que pouco foi feito ali, somente o suficiente para deixar o sentimento tomar conta.

É por isso que vimos tantos artistas mergulhando no Country e Folk nos últimos anos, por tendência ou não: Lady Gaga, com seu álbum “Joanne”, Miley Cyrus, retornando às suas origens com “Younger Now”; Taylor Swift, com “Folklore”, Halsey, com o “Manic”, e por aí vai. O que vemos em comum entre elas nesses álbuns é a sonoridade distante dos sintetizadores e as vozes que se deixam fluir como são.

Posso adicionar a Beyoncé na lista acima (quem já ouviu “Daddy Lessons“, do álbum “Lemonade”?). E vou mais fundo nisso: por mais incrivelmente talentosa que Beyoncé seja, nas canções desde o “Beyoncé”, ela não parece se importar tanto em manter o pulso da música sob controle o tempo todo, mas deixar a voz a costurar e romper com qualquer convenção de tempo e impostação de voz que exista.

Esse é o tipo de música que soa como uma boa produção ou gravação feita em casa, sem grandes produtores ou tantas mãos ali, mas pasmem: só o “Lemonade” foi produzido por 23 grandes nomes da indústria da música; “Beyoncé”, por 22; “Manic”, 17 produtores; “Joanne” teve 5 produtores musicais e 2 executivos; e “Folklore”, 2 produtores.

Parecem muitas pessoas colaborando para esse tipo de música, mas duas cabeças pensam melhor do que uma. Já 23 cabeças eu não preciso nem comentar! Por mais “simples” que a canção pareça a uma primeira ouvida, ela é milimetricamente pensada para atingir o resultado esperado.



Mas, uma produção nesse contexto não se distancia da ideia inicial do que seria uma música mais orgânica? A resposta é não e talvez! Para nós, ouvintes, não. Estamos na ponta de tudo, sabemos o que ouvimos e, no máximo, o que os artistas entregam nas entrevistas. O resultado está ali, autêntico ou planejado, ele está ali e você pode senti-lo. Já para os envolvidos no processo de criação, talvez. Nunca saberemos o verdadeiro contexto de uma produção musical dentro de um estúdio.

As perguntas que você deveria estar se fazendo são:

  1. Para onde vai a individualidade do artista que tem o nome em destaque no álbum quando existem tantas outras individualidades envolvidas?
  2. E por que muitos artistas têm seguido esse caminho?

Já dei algumas dicas acima, então você já deve prever. Mas, vou te explicar melhor:

O Marketing e a música pop mainstream

As mudanças nas formas de se fazer Marketing, sentidas desde a análise de mercado até o relacionamento com o consumidor de música pop internacional, são o ponto principal de virada para esse tipo de escolha.

Nos últimos anos, foi possível perceber uma mudança naquilo que as pessoas tem buscado: elas não querem mais sentir somente o valor, o que a música ou seja qual for o produto tem a oferecer para suas vidas, mas como será a experiência delas com isso. Elas querem se identificar, de ser humano para ser humano, e se conectar em uma escala jamais vista antes.

Isso tem ocorrido, provavelmente, devido às mudanças nos hábitos de vida. Com a tecnologia, tudo fica mais fácil e rápido – desde as dinâmicas nas relações humanas com os aplicativos de paquera até ouvir música -, mas em larga escala, essa facilidade também faz tudo parecer superficial e quase sem valor (no geral, o que é fácil, não é reconhecido). É onde entra a necessidade de acolhimento, de tornar as coisas mais profundas, da sinceridade acima do êxtase, como uma forma de compensação.

Tem algo mais sincero do que uma canção sobre uma situação ou sentimento real, feita por um compositor independente em seu violão, dentro do seu próprio quarto? Quantas intervenções são feitas nesse tipo de música afim de torná-la mais autêntica? Talvez nenhuma.



Essa mudança de direção também atingiu o Marketing das grandes empresas – a fala descontraída, a interação com o público, o uso de emojis para expressar as emoções, como se a empresa fosse uma pessoa física que interagisse conosco. Vemos exemplos fortes desse tipo de relacionamento nas redes sociais, suporte e comunicações de e-mail da NuBank e da Netflix. E para você ter uma ideia, essa foi uma percepção de necessidade dos públicos tão grande, que a própria página da Prefeitura de Curitiba fez forte uso dessa estratégia de comunicação e posicionamento há alguns anos.

Na música pop internacional, diversos artistas indie trouxeram ideias, instrumentos, composições e processos de criação intrínsecos afim de dar o tom de humanização ansiado inconscientemente pelo público. E muitos deles se decepcionaram fortemente ao perceber que em uma indústria tão grande, a lógica que vale é a de uma corporação: o quarto se torna um grande estúdio, a música no violão segue à risca o caminho que longas pesquisas de mercado traçam e a situação ou sentimento real se torna uma estratégia voltada para o lucro.

Os próprios álbuns visuais, que voltaram com tudo após o “Beyoncé”, são uma reação à necessidade de experiências imersivas e de conexões profundas das audiências. E, apesar disso tudo parecer frio, é também fantástico:

De um lado, a manipulação da nossa inclinação à compra – algo que existe há décadas e que acontece o tempo todo; do outro, o atendimento a uma demanda reprimida em nós por belas músicas e videoclipes e o incentivo ao mercado audiovisual – em ondas, artistas de todos os tamanhos vão enxergando a necessidade de um bom videoclipe para atender os mercados, e isso impactou a própria música pop brasileira e produtores audiovisuais (vide a qualidade dos videoclipes nacionais que tem saído nos últimos anos).

Para nós, músicos independentes no sistema do capital: ou vivemos a utopia em pequenos bares ou aceitamos fazer parte desse jogo de xadrez, buscando por algo maior. Mas sem perder as esperanças e sem deixar de batalhar por isso, até porque muitos artistas indie conseguiram unir satisfação e difusão em massa de seus trabalhos durante suas carreiras.

É isso, independentemente das escolhas no backstage (e contanto que o artista aceite fazer parte disso sem se sentir descartável), seguimos amando ouvir músicas que pareçam ser mais naturais, ousadas, incomuns e criativas. E pode mandar música plástica/farofa também! No final, música é música. 💖

Guilherme Godoy
Guilherme Godoy
Sou um criador apaixonado por marketing digital, música e artes visuais, com foco em SEO e storytelling. Adoro explorar como a tecnologia e a criatividade podem se unir para criar projetos que inspirem e transformem. Cada campanha e obra que desenvolvo carrega meu compromisso com a inclusão e a intenção de tocar corações, provocando reflexões e conectando pessoas de forma autêntica.
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