Quando assisti ao trailer de Nasce uma Estrela e ouvi Shallow, pela primeira vez, fiquei fascinado pela música de de Lady Gaga e Bradley Cooper. O refrão é extasiante e a música acaba entrando facilmente para o repertório das favoritas. O que mais me chamou a atenção em Shallow foram as vozes e como o gênero musical sustenta o conceito do filme.
Inspiração para algo novo
Antes de irmos para a análise, quero dizer que me encontrei bastante no sentimento da letra e na sonoridade de Shallow. É isso, gravei um cover da canção! Convido você para assisti-lo e vivenciar essa canção comigo:
Agora, sim! Fiquem com a minha análise sobre Shallow, a obra prima de Lady Gaga para o filme Nasce Uma Estrela:
O gênero e o conceito
Lady Gaga mostrou um pouco das suas influências no Country pela primeira vez em Yoü & I, quarto single do seu álbum Born This Way. Mas, mergulhou nesse estilo musical em Joanne, álbum que foi gravado em simultâneo com a trilha sonora do filme e que herdou o Country como influência principal. Aqui, fica o destaque a Million Reasons, um dos maiores sucessos do álbum.
O Country possui um grande apelo emocional e foi a fonte de Nasce Uma Estrela. Shallow em específico fala sobre duas pessoas que não conseguem lidar com o seu vazio em dois cenários do mundo atual: a pressão e os sonhos frustrados. Mas a música também encontra espaço para o amor em seu refrão, onde essas duas pessoas saltam para vivenciar algo mais profundo no relacionamento, algo menos “shallow” (superficial).
Ouso dizer que utilizar esse gênero musical foi uma cartada de mestre. O Country parece trazer organicidade e acolhimento para a música. É algo que combina com o próprio filme, aprofunda a experiência e nos faz engajar ainda mais com os personagens. A razão disso? Provavelmente por trazer instrumentos não sintetizados – como os violões acústicos e os címbalos – e distorções sutis, como as guitarras.
Shallow é apresentada em versões diferentes durante três momentos do filme: em um estacionamento, quando Ally (a personagem de Gaga) a apresenta acapella para Jack (o personagem de Bradley Cooper) pela primeira vez; em um show, quando Jack e Ally cantam a música completa juntos; e em uma parte rápida próxima do final do filme, quando Ally faz uma versão rock solo da canção.
Confira o videoclipe de Shallow, com a apresentação de Ally e Jack, e algumas imagens do filme:
Vozes cruas e poderosas
A voz do Bradley Cooper em Shallow foi uma supresa muito boa para mim, ela é de uma profundidade emocional gigantesca e ficou ainda melhor com a sinceridade da voz da Lady Gaga, que também não decepcionou como atriz protagonista da história (foi indicada ao Oscar pelo papel, diga-se de passagem).
É nítida a interpretação de ambos nas vozes, em especial na de Gaga, que em Shallow começa a se apresentar com menos confiança, com uma voz tímida, com a laringe baixa mesmo em notas agudas – algo muito comum quando você está nervoso em uma apresentação e não consegue controlar sua respiração e seus músculos. Gaga ainda “perde o tempo” na entrada do refrão, o que potencializa a interpretação da sua personagem – isso na versão do filme, já que no videoclipe a música está “corrigida”.
Mas, além da interpretação, o que levou a essa escolha?
Lady Gaga e Bradley Cooper queriam provavelmente humanizar a música e transmitir honestidade com ela – a verossimilhança é uma das essências do cinema. Assisti a algumas entrevistas onde eles falaram sobre gravar as canções do filme direto no set de filmagem, junto das cenas, ao invés de gravá-las antes em estúdio e só dublar no set – como é o caso da grande maioria dos filmes musicais.
A discussão sobre humanização da música não é nova. Falei um pouco sobre isso neste artigo, com ênfase na música pop internacional.
O Oscar de Melhor Canção Original a Lady Gaga
Indiscutivelmente, Shallow é uma das obras-primas de cantora e compositora de Bad Romance. E todo esse trabalho foi reconhecido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, premiando a cantora e os outros compositores da canção com o Oscar de Melhor Canção Original, no ano de 2019.
A noite da premiação também contou com uma apresentação emocionante da música tema, onde Lady Gaga e Bradley Cooper ganharam os corações de todos os presentes no Teatro Dolby e daqueles que os assistiam ao redor do mundo. Uma performance grandiosa em sua simplicidade, que marcou a história da premiação:
Bônus: a versão rock de Shallow
Como eu disse anteriormente, Ally faz no filme uma versão rock solo de Shallow. Infelizmente, o trecho é curto e deixa aquele gosto de “quero mais, onde encontro essa versão completa?“.
Gaga não nos abandonou nesse sentido, interpretando a versão rock de Shallow no Grammy 2019 de maneira visceral e, de quebra, levando dois Grammy Awards da canção para casa. Confira a super performance:
Quer mergulhar no mundo das experiências musicais e nadar até o fundo desse oceano de novidades, conceitos e obras de tirar o fôlego? Aproveite para ler os outros artigos do blog!