Halsey escreve músicas que poderia facilmente ser o hino de qualquer pessoa. Suas faixas são principalmente sobre amor e relacionamentos, mas ela também criou algumas músicas poderosas sobre suas experiências pessoais.
Convido você para entender neste artigo a mensagem por trás de Graveyard e como ela se relaciona com a vida de Halsey.
Um abraço apertado
Gravei um cover de Graveyard em outubro de 2019, algumas semanas após o seu lançamento. A música não havia me cativado na primeira ouvida, mas ao passo que fui entendendo os elementos sonoros e as razões por detrás da letra, me identifiquei com ela.
Toda vez que a ouço, ela me vem como um abraço apertado. É por isso que resolvi compartilhar um pouco sobre o que aprendi com dessa canção e fazer uma análise dela.
A narrativa da ilusão e do caos
Ouvi a Halsey pela primeira vez quando ela lançou New Americana, em 2015. Na época, eu gostei do quão doce e selvagem ao mesmo tempo a música parecia e comecei a acompanhar de longe a carreira dela. Depois de canções como Colors, Without Me, Sorry e Nightmare, que não saem das minhas playlists, ela veio com com Graveyard, o primeiro single oficial do seu terceiro álbum de estúdio, Manic (lembrando que Nightmare não estará no álbum, e Clementine foi divulgada somente depois – apenas ganhou um videoclipe antes de Graveyard).
Graveyard nos apresentou uma Halsey que busca lidar com a ilusão do caos e se curar. É uma canção sobre tomar consciência da realidade e deixar alguém ir por amor próprio e como isso pode ser uma luta. Halsey canta sobre como ela estava sempre tentando se encontrar nos lugares errados e com as pessoas erradas, e sobre como ela finalmente percebeu que sua mente é dela e que ela pode fazer o que quiser com ela.
Nas palavras da própria cantora:
“A música é sobre amar alguém que está em lugar ruim e, por amar tanto essa pessoa, você não percebe que você está entrando em um lugar ruim com ela… É também sobre aprender a cuidar de você o suficiente para não segui-la até lá.”
Tradução livre da fala de Halsey, em entrevista para a Billboard.
Não é a primeira vez que Halsey aborda esse assunto em suas músicas. No videoclipe de Without Me, ela já nos apresenta a melancólica narrativa de deixar alguém ir para não ir ao fundo do poço com ele:
O presente olha para o passado
O mais interessante em Graveyard e na postura da Halsey é ver como ela não está apenas nos falando sobre suas dores, mas agindo continuamente para reorganizar os próprios sentimentos e pensamentos. Isso é o que todos nós fazemos (ou deveríamos estar fazendo pelo nosso próprio bem) quando entendemos que algo nos machuca. E olhar para o que a gente acumulou em nossa jornada e traz na nossa bagagem é uma das formas de colocar a nossa cabeça de volta no lugar dela.
“Minha mãe me contou uma história há muito tempo. Ela me disse: ‘não se apaixone por uma pessoa que te dá borboletas no estômago. Se você se sente nervosa quando você está próximo dela, isso é um sinal ruim. Se apaixone por uma pessoa que te faça se sentir segura, calma. Porque se o seu coração salta para fora do seu peito toda vez que você recebe um pouco de carinho ou amor dela, isso significa que ela está te amarrando. Essa não é uma pessoa para estar junto. Seja a pessoa que te faz se sentir segura.‘”
Tradução livre da fala de Halsey, durante uma performance de Graveyard no Grammy Museum.
Dentre tantas coisas, música também é isso. É olhar para suas experiências, para o que se sabe, e encontrar o seu caminho. É uma forma bonita e trágica de autoconhecimento, seja sobre suas paixões mais ardentes ou por qual for o assunto que te leva a esse estado.
Os videoclipes
Falar sobre os videoclipes da Halsey sempre me deixa empolgado. Ela costuma ir fundo nesse quesito e gosta de trabalhar o drama de forma bem presente. Em Graveyard, ela seguiu nos encantando com uma sucessão de obras.
Antes de falar do videoclipe oficial, quero falar sobre o time-lapse com o qual a Halsey fez a primeira divulgação da música:
Esse é um vídeo sobre crescer, se construir, em consonância com a construção da própria imagem da Halsey na pintura que ela mesma faz. É como se saber quem você é só dependesse de você mesmo. E para mim, esse vídeo mostra fortemente o que é o Manic, apesar de ter relação conceitual com Graveyard.
Após o vídeo do time-lapse, a Halsey divulgou o videoclipe vertical da canção no Spotify, em parceria com a artista sul coreana Dain Yoon. O conceito é o mesmo: pintura, construção e o simbolismo da maturidade – no caso, as flores já desabrochadas.
Após abordar o conceito original do álbum e seu momento de atual de autoconhecimento no time-lapse e no videoclipe vertical de Graveyard, Halsey finalmente concretizou visualmente a ideia da música em seu videoclipe oficial. Nele, nós a vemos desenhando uma pessoa que não existe e vivendo intensamente essa ilusão em um parque de diversões, como em um sonho perfeito:
No videoclipe, a ilusão desaparece, e após um literal banho de água fria, o mundo de Halsey se torna apático, sem cor. Aqui, fica clara a metáfora de uma pessoa apaixonada, que não consegue ver as falhas daquele que está do seu lado – por mais terríveis que elas sejam -, até a decepção bater de forma estrondosa no peito e ela ter que lidar com a realidade.
Gostei bastante desse trabalho por ele se diferenciar da abordagem feita em Without Me, ao focar conceitualmente na ilusão ao invés de contar uma história mais literal, uma vez que Graveyard tem um fundo de inocência na própria canção (sinto isso no refrão, nas notas mais agudas) e o videoclipe conversa bastante com isso.
Podem haver mais interpretações dessas obras, esse foi apenas o meu olhar após assisti-las algumas vezes. Se você teve alguma outra visão dos videoclipes de Graveyard, é só deixar nos comentários, que eu vou adorar ler e debater sobre isso!
A outra cara de Graveyard
Se tudo o que você ouviu, viu e leu até aqui não te fez amar Graveyard, eu sei de uma coisa que vai fazer: a versão acústica da música. Confira:
Esse vídeo foi uma supresa, mesmo sabendo que Halsey costuma fazer novas versões de alguns dos seus singles como etapa da divulgação.
A folha em branco
Crescer é uma das coisas mais bonitas da vida, e fazer o seu trabalho acompanhar esse crescimento é igualmente lindo. Graveyard não é só uma voz que grita sobre sofrer por amor e deixar ir, mas um canto de acolhimento a todos aqueles que buscam se encontrar e se identificar com algo após uma desilusão.
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