No sábado, 3 de maio de 2025, a Praia de Copacabana não foi apenas um cenário. Foi corpo, palco e coração de um espetáculo que uniu multidão, emoção e significado. Com mais de 2,1 milhões de pessoas reunidas sob o céu carioca, Lady Gaga entregou uma apresentação que transcendeu a música — foi rito de passagem, manifesto coletivo e renascimento artístico.
Nomeado “Mayhem on the Beach”, o megashow gratuito do projeto Todo Mundo no Rio marcou o retorno triunfal da artista ao Brasil após 13 anos de ausência. Mas não foi apenas um reencontro com o público. Foi um acerto de contas com o tempo, com a dor e com a força que nasce da vulnerabilidade compartilhada.
Estrutura monumental e energia incontrolável
Foram meses de preparação para que tudo estivesse à altura do momento. O palco, com 1.260 m², posicionado em frente ao Copacabana Palace, foi concebido como uma extensão da própria narrativa do álbum Mayhem: caos e beleza, contraste e harmonia. A estrutura, elevada a 2,2 metros da areia, foi ladeada por 16 torres de delay que garantiram som cristalino da Avenida Princesa Isabel até a Rua Rodolfo Dantas.
Mais de 5 mil profissionais foram mobilizados para a operação de segurança, entre eles 3.300 militares, 1.500 policiais e 400 bombeiros. A Cedae distribuiu gratuitamente mais de 30 mil litros de água ao longo da orla para garantir o bem-estar do público. A Prefeitura do Rio realizou uma operação especial de mobilidade com metrô 24h, linhas de ônibus extras e bloqueios de trânsito, assegurando a chegada de mais de 500 mil turistas.
MAYHEM: um álbum que virou experiência sensorial
Lançado em março de 2025, Mayhem é o oitavo álbum de Lady Gaga. Com estética industrial, bases eletrônicas e letras que exploram colapso, reconstrução e identidade, o disco é um manifesto visceral sobre o caos interior e a libertação pela arte e o amor. Em Copacabana, essas canções ganharam camadas adicionais de potência ao se fundirem com a energia coletiva do público brasileiro.
A performance foi estruturada em cinco atos cênicos, cada um com direção de arte distinta, projeções em vídeo mapping e figurinos customizados. As transições eram coreografadas como peças de teatro, transformando a praia em um grande palco de emoções. Nos bastidores, estima-se que mais de 300 profissionais trabalharam na montagem, ensaios e operação visual da apresentação. A direção criativa contou com nomes como Nicola Formichetti e Richard Jackson.
Moda como linguagem simbólica
Desde a abertura, Gaga deixou claro que cada figurino contava uma história. No primeiro ato, o vestido vermelho escarlate em camadas remetia ao drama e à ferida aberta. No segundo, o look verde-amarelo, com brilhos e faixa presidencial, declarou sua reverência ao Brasil — gesto ovacionado por toda a orla.
Nos atos seguintes, ela alternou entre trajes metálicos, cyberpunk e etéreos, refletindo as atmosferas emocionais das faixas. Cada troca de roupa era uma virada de página, como se o figurino também cantasse com ela. As roupas foram criadas por uma equipe de estilistas internacionais com materiais que suportassem o calor intenso e permitissem mobilidade total em coreografias exigentes.
Setlist em cinco atos: caos, catarse e consagração
Act I — Of Velvet and Vice (De Veludo e Vício)
- María Sangrienta
- Abracadabra
- Judas
- Scheiße
- Garden of Eden
- Poker Face
Act II — And She Fell Into a Gothic Dream (E Ela Caiu em um Sonho Gótico)
- Perfect Celebrity
- Enfermedad
- Paparazzi
- Alejandro
- The Beast
Act III — The Beautiful Nightmare That Knows Her Name (O Belo Pesadelo Que Conhece Seu Nome)
- Killah
- Zombieboy
- Die With a Smile
- How Bad Do U Want Me
Act IV — To Wake Her Is to Lose Her (Despertá-la É Perdê-la)
- Shadow of a Man / Kill for Love (final)
- Nacido de esta manera
- Blade of Grass
- Poco profundo
- Vanish Into You
Finale — Eternal Aria of the Monster Heart (Ária Eterna do Coração Monstro)
- Bad Romance
Cada faixa era acompanhada por efeitos visuais intensos, explosões de luz, fumaça, painéis móveis, pirotecnia sincronizada e cenários mutáveis. A sequência final incluiu uma queima de fogos sincronizada com o refrão de “Bad Romance”, criando um momento apoteótico.
Um discurso que marcou a noite
Durante o segundo ato, após “Paparazzi”, Gaga levantou uma enorme bandeira do Brasil e, emocionada, agradeceu ao público:
“It’s a great honor to be asked to sing for Rio — your understanding that I needed time to heal meant the world to me. I feel better than ever and will make sure this show is one you will never forget.”
A frase foi traduzida por um fã, ao vivo, e recebida com gritos e aplausos ensurdecedores. Pouco depois, Gaga completou:
“Tonight, we’re making history. Thank you for making history with me.”
Arte, inclusão e comunhão
Em Born This Way, Gaga dedicou a performance à comunidade LGBTQIAPN+ brasileira, dizendo ao microfone: “Vocês são a razão de eu estar aqui. Nunca esqueçam o quanto são importantes.” O momento foi recebido com lágrimas e gritos de orgulho, enquanto milhares de bandeiras coloriam a areia.
Fãs subiram em árvores, cantaram todas as músicas e celebraram cada gesto da artista como se fosse único. A comunhão entre Gaga e o público brasileiro foi além da música — foi um espelho emocional de pertencimento coletivo. Nas redes sociais, hashtags como #Gagacabana, #MayhemOnTheBeach e #GagaNoBrasil dominaram os trending topics globais.
Impacto cultural e econômico
Segundo a Riotur, o evento movimentou R$ 600 milhões na economia carioca. A ocupação hoteleira chegou a 98%, e companhias aéreas como LATAM, GOL e Azul criaram dezenas de voos extras. Restaurantes e lojas da Zona Sul operaram no limite de capacidade. O evento atraiu mais de 500 mil turistas ao Rio de Janeiro, de diferentes regiões do Brasil e do mundo.
O impacto superou em 27,5% o show de Madonna em 2024. Mais que cifras, o evento simbolizou um marco de transformação urbana, social e simbólica para o Rio de Janeiro, impulsionando também a cadeia produtiva da cultura.
Gagacabana: símbolo de uma nova era para o Rio
“Mayhem on the Beach” foi a segunda edição da iniciativa Todo Mundo no Rio, que prevê uma atração internacional gratuita por ano até 2028. O projeto consolida o Rio como vitrine global de experiências culturais acessíveis e inesquecíveis.
Lady Gaga veio, viu, viveu — e fez história. Em cada gesto, uma memória. Em cada música, uma ferida curada. Em cada alma presente, um capítulo inesquecível da nossa história compartilhada.
O que vem depois de Gagacabana?
Mais do que um show, “Mayhem on the Beach” deixou um legado. Para o Rio, foi um exercício de capacidade cultural. Para Gaga, um ciclo de cura. Para os fãs, um marco geracional.
A prefeitura já discute a ampliação do projeto Todo Mundo no Rio, e a expectativa para a próxima edição é global. Nas redes, milhões repercutem a apresentação como “o maior show do século”.
Se há algo que este evento ensinou, é que quando arte, cidade e pessoas se encontram com propósito, o extraordinário acontece. E o Brasil, mais uma vez, mostrou ao mundo como transformar caos em beleza.
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